Resumen
Este ensaio reflete etnograficamente sobre a defesa do Rio Camaquã, na Serra do Sudeste, pampa brasileiro, a partir das questões colocadas ao longo do Inventário Nacional de Referências Culturais Lida Campeira (INRC Lida Campeira). O trabalho de campo tem sido realizado com populações tradicionais que, historicamente, constituem a paisagem da parte alta da bacia, nos campos dobrados ou campos de pedra. O Alto Camaquã, alvo da mineração desde o século 18, apresenta um paradoxo: por um lado é onde o bioma pampa encontra-se mais preservado, ao mesmo tempo figura como a região mais empobrecida do Rio Grande do Sul. Em 2014, as empresas transnacionais Nexa Resources (ex-Votorantim Metais) e Iamgold Corporation solicitaram a abertura de uma mina de chumbo e outros metais pesados no distrito de Minas do Camaquã, com previsão de utilização da água do rio na atividade. Nesse sentido, este trabalho tenta acompanhar a itinerância das águas do Rio Camaquã, por meio daqueles que compartilham a presença viva do Rio, mas, também, a experiência da mineração – e do terror decorrente dela.
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