Resumen
As emissões urbanas de CO2 têm sido percebidas como um ponto central no Ciclo Global de Carbono, embora ainda compreendamos muito pouco sobre a emissão humana no espaço e tempo. O objetivo deste trabalho é identificar as áreas que mais emitem CO2 de tráfego de veículos e explorar a relação com as características socioespaciais. Para isso, o modelo de mapeamento que quantifica o fluxo de CO2 em alta resolução espacial (ao nível da rua) e temporal (frequência horária) foi aplicado ao Rio de Janeiro. Este modelo busca entender os padrões geográficos locais e as emissões ao longo do tempo utilizando algoritmos de Aprendizagem de Máquinas, dados de mobilidade, Sistema de Informação Geográfica e R. Para estudar as características socioespaciais das emissões urbanas de CO2, os valores modelados foram agregados aos setores censitários do IBGE e áreas de planejamento da cidade, que contém 480 variáveis socioeconômicas e demográficas. A técnica de redução de dimensionalidade com o método regressão parcial de mínimos quadrados (PLS) foi aplicada para selecionar as principais variáveis que explicam a variação das emissões. Os resultados mostram que as maiores emissões de CO2 ocorrem nas vias expressas que conectam a cidade, pois possuem mais pistas de rolamento que concentram mais veículos, com maior velocidade em um percurso mais longo. Utilizando a Correlação de Pearson, as áreas que mais emitem CO2: 1 - possuem maior densidade de moradores nos domicílios (r = 0,9); e 2 - têm mais pessoas residentes pardas (r = 0,78) e com rendimento mensal per capita superior até 1/2 salário- mínimo (r = 0,76), localizadas próximas às vias expressas; ou 3 - têm maior rendimento mensal (r = 0,85), ocorrendo na orla da Zona Sul, área mais rica da cidade e mais arborizada (r = 0,63), onde há maior oferta de trabalho. Em contrapartida, as menores concentrações de CO2 ocorrem em áreas onde há mais pessoas com rendimento mensal per capita de até 1/8 salário-mínimo (r = 0,82), com pessoas residentes pretas (r = 0,66), que estão localizadas em áreas com dificuldade para mobilidade, distantes das áreas que oferecem postos de trabalho e distante das vias de circulação. Este estudo salienta a importância da segregação socioespacial na formulação de ações climáticas setoriais e inventários de gases de efeito de estufa mais detalhados.
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